domingo, 31 de outubro de 2010

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é assim que me distorço durante o sonho. estranhamente encontro ruas errantes no meio de cidades falecidas, decadentes. a cada passo me pareço mais afundada; oculta. o pó dá lugar à presença, subitamente. e é então que contemplo algo ilusório. ilude-me de uma provável paixão que me torna um pouco mais íntegra.

...intelectualização inconsciente.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

a noite é muito escura.

(...)
Mas agora só me importa a luz da janela dele.
Apesar de a luz estar ali por ele a ter acendido,
A luz é a realidade imediata para mim.
Eu nunca passo para além da realidade imediata.
Para além da realidade imediata não há nada.
Se eu, de onde estou, só vejo aquela luz,
Em relação à distância onde estou há só aquela luz.
O homem e a família dele são reais do lado de lá da janela.
Eu estou do lado de cá, a uma grande distância.
A luz apagou-se.
Que me importa que o homem continue a existir?

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

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A envolvência das almas é petrificante. A intensidade da atmosfera sobe exponencialmente num luar que enlouquece quem não tem alguém a quem se possa aprisionar. E que paixão será esta loucamente ambígua.


terça-feira, 5 de outubro de 2010

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15.
Conquistei, palmo a pequeno palmo, o terreno interior que nascera meu. Reclamei, espaço a pequeno espaço, o pântano em que me quedara nulo. Pari meu ser infinito, mas tirei-me a ferros de mim mesmo.

Livro do Desassossego. Bernardo Soares (f.p)